segunda-feira, 23 de abril de 2012

ón

O nó que inquietava o pensamento
Sacolejou a lembrança
Que guardada em esperança
Fez-se nó na garganta
E silêncio à sangrar.

sábado, 2 de outubro de 2010

Zarpar 2

Se a vida é o meu navio
Aprenderemos a varrer as estrelas
Antes de desabotoar o que era reservado
Enquanto a tormenta nos tentar alçar
Consertarei seu casco
Todas as vezes que parecer nos afundar
Com suas mãos íntimas demais
A percorrerem meu corpo
Talvez você lembre de como é navegar
Por lugares onde não temeria se perder outra vez
Seu olhar doce, seus cheiros
E toda a maresia
Da rota que decidimos seguir
Palavras estragariam tudo
Como em um piscar
Desarmado de qualquer ironia
O capitão estava entregue
Sentia o que almejava
Naquela alma de aventuras
Nadando por cima da pele macia
O mar se agitava quando
Entre-laços meu navio queimava
Celebrava o romance no seu espaço
Até tudo se esvair
Na velocidade da luz estrelar.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Jogo de Setembro

Há quilômetros, distante acompanhei seu mundo
Você na terra, eu no espaço, a cada dia menos visível
Em uma espécie de panóptico que sustenta meu segredo
Quando o sol brilha ainda estou lá
Todo dia o encanto é lançado, e então torno endoidecer
Suas boas intenções têm cor acinzentada
Contam bem mais para pequeno
Aprecio o colorido que floresce
seu brilho escondido em porões
Onde o jardins não costumam ter muros
Já começou setembro
A brisa continua sem um abraço aquecido
Conversei com as borboletas
E percebi que já não voavam como antes
Pobres seres, morreram por asfixia
As que escaparam, voaram para fora de minha barriga
Em direção a outro um olhar apaixonado
Meu mundo tem apreciado os espasmos do silêncio
Os pedaços de promessas que estão por toda parte
Agora insignificantes as palavras
O jogo acabou e não enxergo um vencedor
Embaralho as cartas sem pressa para recomeçar
Dessa vez vou jogar meu Ás na hora certa
Nada de jogar os dados e prometer amor
Você não sobreviverá, se não correr
Então corra! O mais rápido que puder
Saia antes do sol nascer
Amanhã meu peito não será mais um lar ruído
Quando o mundo voltar a pegar fogo
Não vou olhar para trás.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Zarpar 1

Não é mais tão baldio o terreno que se foi
Devastado por um crustáceo astral e cruel
Um que me incentivava a conversar com estrelas
Enorme era a semelhança entre ambos
Hoje as procuro no céu e duramente as ignoro
São apenas pingos de desperdício
Quilos de amor guardados na voz do silêncio
Agir como um crustáceo seria perguntar:
Você não vê o quanto devastou?
Meu barco era o melhor
E o capitão não parecia um pirata perdido
A neblina escondeu todas aquelas suas partes bonitas
Enquanto cantava “eu sei que vou te amar”
Você nadava rumo ao sul, frio, até desaparecer
E aquele cheiro salgado do mar que a brisa trazia, gritava
Tudo gritava dizendo abandono
Sem sucumbir, a via partir
Partes da inocência iam junto à vulgaridade daquela mergulhadora
Disse apenas: siga em frente!
Para as velas do coração foi como zarpar
Dar voltas pelo oceano sem o perigo dos olhos negros aventureiros
Para encontrar um paraíso que não faça pesar tanto o coração.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Barco perverso

Estar navegando nesse mar de sons desafinados
A esperar por tempestades, ao passar por elas, nada avistar
Poderia nadar pelas cordas desse mar por mais tempo
Satisfazer-me de uma emoção medíocre e contar para a lua
Deveria temer ao iceberg, ele está longe
Ele não derreteu enquanto parecíamos estar quentes
Ainda encrava um espaço grandioso vindo do lugar mais profundo
O barco viaja com um capitão bêbado, uma bússola antiga no peito
A cada tempestade que sobrevivo, escuto a música que me faz desejar o mar
Não é mais um resgate do que pereceu congelado
Navego apenas para salvar o coração do capitão
Converso com as estrelas porque são o que tenho esta noite
A fé é o que sinto, além de um amor tolo e solitário pelo mar.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Rosa



Vi-te rosa
Tu cruzastes o meu caminho
Ao te olhar não fui sozinho
Tu soltaste o teu perfume
Te segui me apaixonei
Vi-te rosa
Só não tive a prosa que ensaiei
Lado a lado, você beijou um passarinho
Que desde então acha que é rei
Vi-te rosa
Tua voz é tão gostosa
Que em meu peito não escondo
Um lugar que já és teu
Vi-te rosa
Bem te quero todo dia
Ver estrelas em noite fria
Te aquecer com a minha asinha
Dar amor, viver, viver
Vi-te rosa
Meu coração hoje palpita
Fiz de novo poesia
Com amor só pra você.

Imagem: Alexandre Carapeto

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A ópera dos ponteiros


No quarto a música ainda toca
Os ponteiros do relógio se apressaram
Esta noite a vida não se atrasou conversando com a memória
Só por hoje deixei você guardada
Não quis tirar a sua roupa e nem chamei pelo teu nome
Comecei a medicar o pensamento
Pedi uma anestesia geral para amenizar a dor
Aviso! Irei fazer uma cirurgia e a operação vai ser longa

O doutor não me descreveu como será o processo
Mas entreguei meu caso em suas mãos
Talvez ele faça um transplante
Coloque algo mais saudável no lugar afetado
Ou apenas reconstitua a parte adoecida

Durante a operação a música tocou algumas vezes
Com a sua vibração, algumas complicações
O médico experiente logo tratou de mudá-la
Pondo uma mais suave e bonita
Meu pulso foi se estabilizando
Tudo apontava para o sucesso e
Os ponteiros já trabalhavam sem pressa

Não foi necessário o transplante
Enquanto o relógio se apressava a anestesia fazia efeito
Acordei com a surpresa
Sentia outra música
Uma que descreveu toda a cirurgia
E fez-me sentir sã de novo
Pensei... Esse médico é dos bons mesmo!
Voltei pra casa cantando
Havia umas cicatrizes
Não dei muita atenção
Lá a música tocava sem parar
Dizia que todo o sentindo da vida era amar

Percebi um amor insaciável
Esse não tinha cura
Ele percorria minhas veias e queimava o mundo
Mostrava a imensidão da vida
Declarando que o amor que mora em mim
Não pode ser nunca mais inferiozado
Minha prescrição foi: não colocar a felicidade em mãos alheias
Ela estará comigo, sem vícios
Com o devido respeito às limitações
A medicação? Bastante conhecida
Seu nome: amor próprio


Imagem: Vladimir Kush

sábado, 19 de dezembro de 2009

Banais


Um mundo caído, sem chão nem teto
Um imenso não sei
Um grito
Não sem você!
Um doloroso empurrar
Pula sem mim!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Eu, vagalume



Pequenos passos foram o suficiente para abstrair-me de um turbilhão de informações vazias corriqueiras, meu caminhar foi despretensioso, mas ao respirar bem fundo estava impulsionada a ver algo fosforescer no ar. Foram passos curiosos, minuciosos, sedentos para enxergar por detrás dos véus e cortinas negras que guardavam a magia da entrega mútua.
Uma moça com um sorriso bonito e sem dúvida gentil era a guardiã da sala mágica, explicou que eu deveria entrar e guiar-me tocando a parede se não quisesse me perder devido à ausência de luz. Sorri tocando a parede e fui andando a pensar sobre o vindouro.

Timidamente com o olhar ainda baixo dei pequenos passos, passos que escureciam o meu caminhar cada vez mais, ao levantar a face meu olhar então havia se encantado, vi luzes distantes, cintilantes, esplendorosas. Lembravam-me estrelas, mas não eram as estrelas que habitavam a sala mágica, as luzes voavam brincando no espaço, as luzes eram as criaturas lindas chamadas de vaga-lumes. Realmente deslumbrei-me ao ver sua beleza desde o primeiro olhar. Estávamos sós, as vidas-luzes que vagam livres e eu que por sinal já me sentia parte da magia deles.

Em meio aquela escuridão eu já começava a enxergar, mesmo que com certa dificuldade, via as próprias partes do meu corpo ficarem mais nítidas e reluziam na companhia deles, comecei então a rodar, rodar, rodar até ficar tonta de vê-los acesos, queria brilhar como eles brilhavam, acender o escuro.

Era romântico, era mútuo, eles também me queriam lá, me queriam amar, estavam em um jogo bailante me seduzindo para que entrasse em sua dança, eu quis ser vaga-lume, quis estar com eles, ser parte daquele grupo, quis seguir o movimento, ser arte! Então eu os amei a medida que respirava sincronizada ao movimento da dança, cada uma daquelas criaturas que alumiavam a sala mágica naquele momento também expusera um punhado de sentidos, encontros de eus negros, eus pirilampos. Éramos nós, com todos eus, no escuro nos percebíamos e de uma mágica entrega o amor acendia nos fazendo uma só luz vagante.


Imagem: baseada na obra dos vagalumes (Shirley Paes Leme)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Vindouro



Em céus distantes
Amantes ao mar
Sussurram aos homens
Que a-mar é gigante
Amigos derretidos
Cultivam o sentir
Em terras mutantes
Entre um vento imigrante
As lágrimas falantes terão a ação
E inesperadamente os versos futuros
Tocarão os lábios
Acelerando o pulsante coração
Ressoam em carícias
As delícias que arrebatam
Vindouras alicias.


Eulandia Florêncio/ Fábio Rabelo
Imagem: René Magritte