sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A ópera dos ponteiros


No quarto a música ainda toca
Os ponteiros do relógio se apressaram
Esta noite a vida não se atrasou conversando com a memória
Só por hoje deixei você guardada
Não quis tirar a sua roupa e nem chamei pelo teu nome
Comecei a medicar o pensamento
Pedi uma anestesia geral para amenizar a dor
Aviso! Irei fazer uma cirurgia e a operação vai ser longa

O doutor não me descreveu como será o processo
Mas entreguei meu caso em suas mãos
Talvez ele faça um transplante
Coloque algo mais saudável no lugar afetado
Ou apenas reconstitua a parte adoecida

Durante a operação a música tocou algumas vezes
Com a sua vibração, algumas complicações
O médico experiente logo tratou de mudá-la
Pondo uma mais suave e bonita
Meu pulso foi se estabilizando
Tudo apontava para o sucesso e
Os ponteiros já trabalhavam sem pressa

Não foi necessário o transplante
Enquanto o relógio se apressava a anestesia fazia efeito
Acordei com a surpresa
Sentia outra música
Uma que descreveu toda a cirurgia
E fez-me sentir sã de novo
Pensei... Esse médico é dos bons mesmo!
Voltei pra casa cantando
Havia umas cicatrizes
Não dei muita atenção
Lá a música tocava sem parar
Dizia que todo o sentindo da vida era amar

Percebi um amor insaciável
Esse não tinha cura
Ele percorria minhas veias e queimava o mundo
Mostrava a imensidão da vida
Declarando que o amor que mora em mim
Não pode ser nunca mais inferiozado
Minha prescrição foi: não colocar a felicidade em mãos alheias
Ela estará comigo, sem vícios
Com o devido respeito às limitações
A medicação? Bastante conhecida
Seu nome: amor próprio


Imagem: Vladimir Kush