quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Eu, vagalume



Pequenos passos foram o suficiente para abstrair-me de um turbilhão de informações vazias corriqueiras, meu caminhar foi despretensioso, mas ao respirar bem fundo estava impulsionada a ver algo fosforescer no ar. Foram passos curiosos, minuciosos, sedentos para enxergar por detrás dos véus e cortinas negras que guardavam a magia da entrega mútua.
Uma moça com um sorriso bonito e sem dúvida gentil era a guardiã da sala mágica, explicou que eu deveria entrar e guiar-me tocando a parede se não quisesse me perder devido à ausência de luz. Sorri tocando a parede e fui andando a pensar sobre o vindouro.

Timidamente com o olhar ainda baixo dei pequenos passos, passos que escureciam o meu caminhar cada vez mais, ao levantar a face meu olhar então havia se encantado, vi luzes distantes, cintilantes, esplendorosas. Lembravam-me estrelas, mas não eram as estrelas que habitavam a sala mágica, as luzes voavam brincando no espaço, as luzes eram as criaturas lindas chamadas de vaga-lumes. Realmente deslumbrei-me ao ver sua beleza desde o primeiro olhar. Estávamos sós, as vidas-luzes que vagam livres e eu que por sinal já me sentia parte da magia deles.

Em meio aquela escuridão eu já começava a enxergar, mesmo que com certa dificuldade, via as próprias partes do meu corpo ficarem mais nítidas e reluziam na companhia deles, comecei então a rodar, rodar, rodar até ficar tonta de vê-los acesos, queria brilhar como eles brilhavam, acender o escuro.

Era romântico, era mútuo, eles também me queriam lá, me queriam amar, estavam em um jogo bailante me seduzindo para que entrasse em sua dança, eu quis ser vaga-lume, quis estar com eles, ser parte daquele grupo, quis seguir o movimento, ser arte! Então eu os amei a medida que respirava sincronizada ao movimento da dança, cada uma daquelas criaturas que alumiavam a sala mágica naquele momento também expusera um punhado de sentidos, encontros de eus negros, eus pirilampos. Éramos nós, com todos eus, no escuro nos percebíamos e de uma mágica entrega o amor acendia nos fazendo uma só luz vagante.


Imagem: baseada na obra dos vagalumes (Shirley Paes Leme)